Passar para o Conteúdo Principal Top

museus de Ponte de Lima

MUTE_2Museu dos Terceiros_Miguel Costa

Museu dos Terceiros_Miguel Costa

Senhora da Graça

Escultura de vulto em madeira dourada e policromada do Século XV (finais)

  • Dimensões: 138 x 56 x 32 cm
  • N.º Inventário: 0046

Ao contrário de outras representações da Virgem, que constituem a expressão de um dogma ou de episódios da vida fabulada da Mãe de Deus, a designação de Senhora da Graça constitui, como tantas imagens de Maria espalhadas pelos templos portugueses, uma invocação popular. A génese do título e o culto remontam, em Portugal, à segunda metade do século XIV, quando pescadores de Cascais recolheram na rede, por entre um número infindável de peixes, uma imagem de Nossa Senhora com o Menino nos braços. Os pescadores logo se inclinaram perante a imagem da Virgem, invocando-a de Nossa Senhora da Graça. A imagem foi conduzida a Lisboa, ao mosteiro de Santo Agostinho. Os frades colocaram-na no altar-mor da sua igreja, que passou a designar-se Igreja da Graça. O culto irradiou a partir desse local para todo o país, constituindo no tempo atual orago em templos de todas as regiões de Portugal. O percurso da escultura da Senhora da Graça no Convento de Santo António está bem documentado. De acordo com a Crónica conventual, a imagem era venerada no altar-mor da igreja conventual desde 1497, pouco tempo depois da fundação e da sagração do templo. Nos inícios do século XVII, mais propriamente em 1614, na sequência das intervenções que o retábulo foi alvo, foi trasladada pelos religiosos para o lugar da via-sacra, entre a igreja e a sacristia, onde foi criado um nicho para a albergar.

O cronista descreve-a do seguinte modo: "Tem de altura seis palmos, e na mão esquerda sustenta o seu amado Filho graciosamente reclinado em seu amoroso peito. Na mão direita Lhe falta o ceptro, que consta tinha antigamente, e para nela o ter parece foi ideada a acção da mesma mão."

Nesse nicho continuou a imagem a merecer grande devoção, especialmente entre os noviços. Aí permaneceu a Virgem até ao ano de 1678, momento em que Paulo Pereira de Mesquita, pessoa nobre da vila de Ponte de Lima, instituiu capela no lugar da via-sacra, que compreendeu a decoração com azulejo de todo o espaço parietal da via-sacra e igualmente a encomenda de um retábulo onde viria a ser instalada a imagem da Senhora da Graça. A escultura da Virgem ocupava a posição central no retábulo então erguido, tendo o instituidor ordenado a colocação, a ladear a Virgem, de duas pinturas com as representações de Santa Ana e do Apóstolo São Paulo.

O retábulo perseverou na forma que lhe foi conferida por Paulo Mesquita até ao ano de 1746, altura em que se procedeu à substituição do retábulo e ao seu douramento. A própria imagem da Virgem sofreu intervenções, sendo reformada e estofada "com o mais primoroso desvelo." Assim continuou até hoje.