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museus de Ponte de Lima

MUTE_2Museu dos Terceiros_Miguel Costa

Museu dos Terceiros_Miguel Costa

Última Ceia

Pintura a óleo sobre tela do Século XVII/XVIII

  • Dimensões: 286 x 166 cm
  • N.º Inventário: 0395

A Última Ceia representa a refeição, na época da celebração da Páscoa judaica, de Jesus Cristo com os seus discípulos, na véspera da Paixão, antes de ser entregue por Judas Iscariote às autoridades romanas. Este momento marca a instituição da Sagrada Eucaristia, um dos sacramentos da liturgia cristã, que simboliza o sacrifício do corpo e do sangue de Cristo, perpetuando o sacrifício da cruz: Fazei isto em memória de Mim.

Com a Contra-Reforma católica no século XVI, e para vincar o carácter fundamental do sacramento da Eucaristia, foi promovida a chamada Ceia Eucarística, onde o aspecto mais humano e psicológico do episódio do Cenáculo cede lugar a uma figuração mais simbólica e litúrgica: Cristo oficia, consagrando o pão e o vinho, podendo por vezes também surgir o cordeiro pascal ou o peixe simbólico.

Costuma ser figurada com Cristo e os doze discípulos rodeando uma mesa, geralmente de formato rectangular. Habitualmente, Jesus tem São Pedro à sua direita, e São João à sua esquerda, com a cabeça reclinada sobre o Mestre. Judas pode ser reconhecível pela cabeleira ruiva, ou por estar sentado à parte, em atitude e gestos comprometedores, ou por meter a mão no prato, ou por receber o pedaço de pão que Jesus lhe estende; mas o mais comum é figurar com a bolsa dos trinta dinheiros.

Desconhecemos em absoluto a localização original desta peça. O cronista não faz qualquer menção a ela quando, em meados do século XVIII, descreve o recheio do convento de Santo António, ao contrário do que sucede relativamente a algumas pinturas situadas na igreja e numa capela do claustro, e cujos paradeiros, por ironia, nos são hoje desconhecidos. É provável que decorasse uma das paredes do refeitório conventual, espaço habitualmente reservado às representações da Ceia e que o cronista não descreve em pormenor. A Inventa Geral organizada em 1909 pela Irmandade de Santo António dos Frades menciona, no corpo da igreja, "um quadro estampado a óleo, representando a Cêa", que em princípio será este, facto que indicia que a tela terá permanecido sempre nas antigas instalações conventuais, sendo posteriormente deslocada para a igreja.

A pintura, de carácter tenebrista, figura Cristo com halo em posição central, segurando o pão com a mão esquerda e fazendo o gesto de bênção com a mão direita. Os doze discípulos formam dois grupos de seis, ao lado direito e esquerdo do Mestre, iniciados em São Pedro e São João respectivamente, contornando a mesa até ao lado oposto de Cristo deixando o espaço central em aberto, podendo observar-se o cálice, o prato, dois copos, dois pães e talheres em cima da mesa coberta com toalha de linho. No chão, em frente à mesa, estão pousados uma lavanda e um gomil de bojo mascarado. Ao lado direito, olhando para o observador, está Judas Iscariotes, com botas calçadas e a segurar a bolsa do dinheiro atrás de si. Ao lado esquerdo, um dos discípulos, descalço, apresenta rosto duplo, posto a descoberto na recente intervenção de restauro, facto que pode ser explicado por um eventual arrependimento do pintor ou até por uma alteração posterior da lavra de outro pintor, algo que só pode ser garantido com exames laboratoriais mais aprofundados.