Passar para o Conteúdo Principal Top

museus de Ponte de Lima

MUTE_2Museu dos Terceiros_Miguel Costa

Museu dos Terceiros_Miguel Costa

Santa Quitéria

Escultura em madeira dourada e policromada do Século XVIII

  • Dimensões: 51 x 30 x 25cm
  • N.º Inventário: 0066

Filha de pais romanos mas consagrada a Cristo, Santa Quitéria integrava o grupo das nove irmãs gémeas virgens mártires, tal como Santa Eufémia (também representada nas coleções do Museu). A sua lenda surge recolhida em diversos Flos Sanctorum, livros biográficos que relatavam os episódios mais significativos das histórias dos santos. Na Península aparecem várias versões que localizam a história ora em Portugal ora na Galiza, consoante os interesses dos redatores e das autoridades diocesanas e monásticas. Esta Virgem, natural de Braga, foi mandada decapitar por seu pai, representante local do poder imperial de Roma. No lugar da decapitação brotou uma fonte. Acompanhada por um anjo, recolheu a sua própria cabeça e dirigiu-se a uma igreja, à cripta, onde um sarcófago estava preparado para a acolher. Aí acabou de morrer.

De acordo com uma outra de versão da sua lenda, de cariz mais popular, foi perseguida pelos mastins do pai, que a devoraram. Este episódio justifica o seu patrocínio contra a raiva e a loucura, permanecendo, no entanto, uma incógnita o saber se a iconografia reflete a história, ou se esta versão da história não é apenas uma tentativa de explicar a iconografia, cuja génese se perde no fundo dos tempos. Se as imagens são a tradução da lenda, a lenda também pode ser a tradução das imagens.

Quitéria é por vezes apresentada levando a cabeça nas mãos, num tipo de representação com pouca fortuna em Portugal. Os seus outros atributos são um cão raivoso que leva a língua fora da boca e está junto aos seus pés, ou um demónio preso.

Esta escultura de Santa Quitéria foi colocada, em 1743, no retábulo seiscentista da Imaculada Conceição, que forrava a igreja do Convento de Santo António, situado junto ao arco cruzeiro, do lado da Epístola, numa altura em que a mencionada peça retabular, já desaparecida, "se mandou reformar, e dourar de novo". No inventário datado de 1909 surge localizada no altar da Senhora da Graça, na ante-sacristia, tendo posteriormente transitado para a sacristia conventual.

Santa Quitéria está representada em posição frontal, com o corpo e cabeça em torção para a direita. O cabelo louro, toucado na nuca, descai às ondas sobre os ombros. As pregas sinuosas da túnica e sobretúnica, aliadas ao aspeto revolto do manto, indicam o barroquismo da peça. A sobretúnica está firmada à cinta, da qual pende uma franja, e tem um colete sobreposto na zona do peito, unido por firmal. O braço direito foi amputado. A mão esquerda segura um livro fechado e um cão em miniatura, alusão ao martírio. A inscrição da peanha está parcialmente apagada.