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museus de Ponte de Lima

MUTE_2Museu dos Terceiros_Miguel Costa

Museu dos Terceiros_Miguel Costa

Santa Maria Madalena

Escultura de vulto em terracota policromada de 1782-1783

  • Dimensões: 08 x 14 x 34 cm
  • N.º Inventário: 1177

A pecadora que enxugou os pés de Jesus na casa de Simão, o leproso, a Maria de Betânia, irmã de Marta e do ressuscitado Lázaro, e a Maria de Magdala, que acompanha o Salvador em alguns episódios da Paixão e Ressurreição, acabaram por fundir-se, de acordo com a tradição, na figura de Maria Madalena, a mais popular das pecadoras arrependidas e santificadas, sem dúvida por ter servido e amado Jesus, que teve por ela a mesma predileção que teve por São João Evangelista. Mas se surge aos olhos dos crentes como modelo de penitência, a razão há que buscá-la também na lenda forjada pelos monges clunicenses no século XI, que, para legitimar a presença e autenticidade das relíquias de Madalena no santuário de Vezelay, engendraram os últimos anos de vida da santa recolhida numa gruta da Provença.

Maria Madalena é identificada com facilidade, mas é necessário não confundi-la com Santa Maria Egipcíaca, a cortesã penitente da Tebaida, com quem apresenta alguns elementos de contaminação iconográfica. A vasta cabeleira loira, que por vezes funciona como única veste a cobrir o corpo, é um exemplo disso. O atributo mais antigo e típico, com tradução frequente na arte na Idade Média, é o vaso de perfumes com que perfumou os pés de Cristo, ou que transportou até ao Santo Sepulcro com as outras Santas Mulheres. As suas vestes variam, podendo exibir roupas de cortesã, consoante é representada antes ou depois da penitência vivida na gruta de Sainte Baume. Enquanto penitente, figura com a caveira e o chicote, tipo de representação mais incentivado na época pós-tridentina.

Obra de rara primor, esta imagem de terracota de Maria Madalena foi encomendada pela Ordem Terceira de São Francisco para figurar no oratório da sacristia [19], no interior do qual se representa um Calvário [98]. A escultura não vem mencionada na deliberação dos Mesários de 16 de junho de 1782, a par das outras imagens do Calvário. Surge, porém, enumerada no Livro de Inventário, pela primeira vez, no registo de 1782-1783. Juntamente com as esculturas do oratório, é referida "outra imagem nova de Santa Maria Madalena reclinada em um leito de barro, metida no buraco do dito monte no referido oratório".

A imagem estava colocada num pequeno espaço, que simula uma gruta, na base do Calvário, numa alusão dupla à presença de Madalena no Monte Gólgota e também à sua suposta vida na caverna da Provença francesa, para onde se retirou segundo a lenda, e que originou o rápido desenvolvimento do seu culto em França e no resto do Ocidente cristão. Madalena é representada jacente sobre uma base que evoca um monte, com a cabeça, virada à sua direita, apoiada numa rocha de feição irregular. O rosto transmite dor e languidez ao mesmo tempo, com o cabelo louro a descair ondulado sobre os ombros e o pescoço, numa delicadeza que se estende à finura das mãos. Um manto avermelhado, ornamentado com elementos fitomórficos a dourado, cobre a quase totalidade do corpo, deixando os pés a descoberto.

Próximo do ombro direito pousam um livro e uma caveira, objetos associados à meditação. Mais junto à cintura, uma vergasta alude à penitência.