Retábulo da Senhora do Rosário

• Dimensões: 494 x 400 x 52 cm
• N.º Inventário: 1424

"O retabolo he da boa escultura daquelle tempo, e na mesma forma foi dourado com a sufficiente perfeição, que então se praticava." Eis as palavras com que o cronista do convento de Santo António descreve o retábulo maneirista que forra a capela da Senhora do Rosário, fruto das obras de reforma que o espaço conheceu, promovidas por D. Francisco de Lima. A sua execução remonta ao período entre 1660-1670, permanecendo, face ao desaparecimento de outras máquinas retabulares de desenho semelhante na igreja conventual, como o exemplar mais antigo que sobreviveu até aos nossos dias.

Mesmo no âmbito do espaço português, pertence a uma tipologia já rara, sobretudo em proporção ao número exponencial de peças barrocas que em breve começaram a ocupar o seu espaço. Trata-se de um típico retábulo fachada, decalque das formas arquitetónicas, numa prática que encontra antecedentes ainda nos estilos gótico e renascentista. A estrutura organizativa, dividida em andares e em nichos intercolúnios e rematada por frontão, permanece maneirista, à moda dos templos romanos, mas, como tendeu a suceder no maneirismo tardio, o lugar outrora central da pintura vai ser cedido à escultura.

De planta reta, o retábulo assume um corpo tripartido, com tramos central e laterais correspondentes aos três nichos existentes, divididos por colunas de capitéis coríntios. Os fustes das colunas apresentam o terço inferior ornado com enrolamentos vegetalistas e a seção superior marcada por estrias helicoidais. O nicho da Virgem do Rosário [66], em forma de mandorla com o fundo raiado, ocupa todo o corpo central. Os nichos laterais inscrevem-se em pares de pilastras e arco perfeito, sobrepujados por placas retangulares ornadas com entrançados fitomórficos formando padrões repetitivos e simétricos, a repetir as fórmulas exibidas nas três predelas. Estas, separadas por mísulas e extremadas por pilastras adiantadas onde assentam as colunas, constituem a base da estrutura retabular.

O coroamento retabular, acima do entablamento, apresenta desenho triangular, cujos vértices inferiores ostentam pináculos florões. O centro da composição é preenchido por uma pintura de formato retangular que representa Deus Pai, entre nuvens, levantando a mão direita em gesto de bênção, segurando com a esquerda, junto ao peito, o globo e empunhando a cruz. A fechar o retábulo surge uma figuração do Espírito Santo, inscrita em estrutura semi-elíptica.