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museus de Ponte de Lima

MUTE_2Museu dos Terceiros_Miguel Costa

Museu dos Terceiros_Miguel Costa

Santa Apolónia de Alexandria

Escultura em madeira dourada e policromada do Século XVII

  • Dimensões: 67 x 30 x 20 cm
  • N.º Inventário: 0065

A posteridade conhece a história de Santa Apolónia, que a tradição identifica como irmã do mártir São Lourenço, através de uma carta do bispo de Alexandria, São Dionísio, transmitida depois por Eusébio de Cesareia na sua Historia Ecclesiastica, onde estão referidas as perseguições encetadas contra a comunidade cristã naquela cidade, importante foco da presença cristã nos primeiros séculos da nossa Era. Capturada pelas autoridades romanas, Apolónia foi submetida a terríveis torturas públicas. Após receber um poderoso golpe na face, os dentes caíram aos pedaços. Segundo uma outra versão posterior, o próprio verdugo arrancou os dentes um a um, com o uso de uma tenaz. Permaneceu firme nos seus desígnios, sem escutar a turba torturadora. Condenada à fogueira, ela própria se lançou às chamas, porém sem dano algum. Perante semelhante espetáculo, as autoridades decidiram pela decapitação final. A sua morte ocorreu em 249.

Depois de publicada a obra de Eusébio, a história de Apolónia foi introduzida nos martirológios. O culto litúrgico e a devoção popular expandiram-se no Ocidente a partir de finais do século XIII, com apogeu alcançado entre os séculos XV a XVIII, o que pode ser testemunhado pelos livros litúrgicos, pelas tradições populares e pela abundante representação na arte. A iconografia mostra a maior parte das vezes uma virgem plena de juventude e beleza, ainda que a carta do bispo de Alexandria mencione uma mulher já madura na idade. O mais célebre dos seus martírios justifica a invocação por parte dos dentistas e daqueles que, padecendo de dores de dentes, constituem a sua clientela. A marca distintiva, sobretudo nas figurações escultóricas, é o dente que podemos observar nas pontas da tenaz, e que permite diferenciá-la de uma outra virgem mártir, Santa Ágata, a quem arrancaram os seios com o mesmo instrumento.

Santa Apolónia está representada em posição frontal, apresentando a nível da indumentária e seus adereços alguns traços que costumam caracterizar as virgens mártires que viveram em território sob o domínio de Roma. À túnica e ao manto habituais, junta-se a sobretúnica que cai até aos joelhos, profusamente ornamentada, apertada à altura da cintura por cinto com firmal, do qual pende uma espécie de fivela. A parte inferior apresenta fundo azul, terminando numa orla dourada de contornos irregulares. A parte superior, de fundo esverdeado, exibe duas vistosas tiras cruzadas preenchidas por pequenos círculos dourados. O cabelo, também como sucede frequentemente nas virgens mártires, não é coberto por véu e surge preso por diadema e outros atavios. Apolónia sustenta na mão direita a palma de martírio e, na esquerda, descaída junto ao manto, a tenaz com a ponta levemente pigmentada a vermelho, seu atributo específico. A frente da peanha aclara a identificação.