Passar para o Conteúdo Principal Top

museus de Ponte de Lima

MUTE_2Museu dos Terceiros_Miguel Costa

Museu dos Terceiros_Miguel Costa

Santa Luzia de Siracusa

Escultura em madeira dourada e policromada do Século XVII

  • Dimensões: 62 x 30 x 20 cm
  • N.º Inventário: 0064

Esta virgem martirizada sob Diocleciano nasceu nos finais do século III em Siracusa, na Província da Sicília, território administrado pelas autoridades romanas, mas habitado já por uma colónia cristã assaz numerosa. Pertencente a uma família de nobre estirpe, cedo cresceu nela o desejo de consagrar-se a Cristo, amplificado após a peregrinação que efetuou com a sua mãe ao sepulcro de Santa Ágata, no dia da festa desta mártir, cuja intercessão miraculosa valeu à mãe a cura de uma grave hemorragia. A partir desse momento vai largando os bens terrenos e inicia o caminho da caridade cristã. Este comportamento suspeito aos olhos das autoridades pagãs em breve é denunciado e Lúcia é forçada a comparecer ante o governador da cidade, Pascácio, que a sujeita a um rigoroso inquérito e a numerosas provações, a que Lúcia resiste de modo altivo, o que só contribui para aumentar a ira do inquisidor, que ordenou a sua decapitação. Estávamos no ano 304.

O seu corpo foi deposto nas catacumbas de Siracusa, foco irradiador do seu culto. O nome da santa consta já no Cânone da Missa do Papa São Gregório Magno. A devoção popular aumenta durante a Idade Média. É célebre a lenda, cuja génese permanece ignorada, mas de notáveis repercussões na iconografia, segundo a qual ela terá arrancado e enviado os próprios olhos (miraculosamente repostos pelo anjo Rafael) num prato a um pretendente, em gesto que simbolizava a recusa. De acordo com algumas interpretações o referido episódio pode ter nascido da associação com a etimologia da palavra Lúcia, que tem a raiz em luz (lux), fenómeno que era recorrente na criação de diversas lendas hagiográficas.

Em termos iconográficos, os olhos, atributo específico, funcionam como arma falante, papel que também pode ser desempenhado palas chamas a seus pés, a lâmpada acesa ou um círio. Os olhos servidos no prato ou bandeja ou sustidos na mão acabaram, no entanto, por se fixar como tipo iconográfico no período posterior ao Concílio de Trento (1545-1563), razão da sua popularidade junto dos oftalmologistas e dos que sofrem dos males de olhos.

A presente imagem de Santa Luzia revela acentuados paralelismos formais com uma de Santa Apolónia existente nas coleções do Museu dos Terceiros, quer no domínio da postura, que inclui o mesmo movimento de braços, quer no tocante à indumentária, ainda que aqui surjam algumas variantes relativas às cores das diversas peças e aos desenhos de alguns adereços. Ao tratamento do rosto é, todavia, conferida uma outra expressividade. Santa Luzia ostenta na mão direita os olhos, moldados em chapa e presos por fita, simultaneamente atributo específico e arma falante. A mão esquerda seguraria a palma do martírio, que desapareceu.