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museus de Ponte de Lima

MUTE_2Museu dos Terceiros_Miguel Costa

Museu dos Terceiros_Miguel Costa

Senhora da Piedade

Escultura de vulto em madeira dourada e policromada do Século XV (finais)

  • Dimensões: 100 x 74 x 34 cm
  • N.º Inventário: 0053

As imagens da Nossa Senhora da Piedade encontram-se intimamente associadas à devoção das dores de Maria, cuja tradição se perde no tempo, e inserem-se, em termos iconográficos, dentro das representações da Virgem Dolorosa. A relação com a Paixão de Cristo é demasiado vincada, tal como sucede com as figurações da Senhora das Dores e da Senhora da Soledade. Todavia, ao contrário do que acontece com estas duas invocações, a Virgem não aparece isolada com uma ou sete espadas cravadas no peito. O grande traço identificador da Piedade é a figura de Cristo morto no colo da Virgem. Na interpretação de alguns místicos, o instante condensado na representação da Piedade é aquele em que a Virgem, ao segurar Cristo morto, recorda a infância do seu filho, no momento em que, ainda novo, era acarinhado nos seus braços.

Muitas abordagens atuais invocam esta ideia para justificar a desproporção corporal entre a Virgem e Jesus. De acordo com este raciocínio, a diferença, talvez exacerbada, de volume entre as duas figuras, deve-se não à falta de perícia técnica dos escultores, mas antes a um sentimento místico bem arreigado. Segundo interpretações mais prosaicas, contudo, esta disparidade explica-se por razões ligadas à emergência da Virgem como principal motivo cultual da religião cristã primeiro, e católica depois. De facto, na representação da Piedade é a figura da Virgem que se impõe, relegando Cristo para uma posição de maior apagamento. Oferta do fundador D. Leonel de Lima ao convento de Santo António, em finais do século XV, esta escultura, também venerada como Senhora do Pranto, foi colocada na sua capela, igualmente chamada capela da Senhora da Piedade. Deslocada, em momento não identificado do século XX, para a sacristia conventual, aí permanece adornando o retábulo que coroa o arcaz. "He de escultura em madeira, e estatura quasi natural: tem a seu amado Filho morto em seu regaço, as mãos ante o peito fechadas, e seus formosos olhos se manifestam derramando lágrimas, o que tudo infunde grande ternura, e compunção."

Nesta composição de estrutura piramidal, a Virgem, sedente e frontal, une as mãos sobre o peito e exibe um olhar baixo, doloroso e profundamente meditativo. Toda a atenção é centrada no gesto e atitude de Maria, absorta na evocação dos momentos da Paixão do Filho. Atitude tão intensa acaba por refletir-se na quase ausência de relação física entre a Mãe e o filho. Cristo tem um tratamento anatómico esquematizado, é apresentado morto e exangue, coroado de espinhos, quase desamparado, seguro apenas pela flexão do joelho direito da Mãe, como se a excessiva interiorização da memória de Maria a desligasse por instantes da presença do Filho.