Santo António de Lisboa

• Dimensões: 338 x 185 cm
• N.º Inventário: 1213

Este painel representando Santo António integrou até recentemente (altura em que foi removido para restauro) o retábulo neoclássico da capela-mor da igreja conventual de Santo António, estrutura em talha que, atendendo à gramática decorativa que exibe, foi levantada no século XIX, ainda os frades capuchos habitavam o Convento, para substituir o retábulo seiscentista que o precedeu. Na ausência de documentação, não podemos adiantar se a respectiva tela foi encomendada inicialmente com o retábulo ou se foi incorporada num período posterior. A única certeza é que se encontrava já aí em 1909, pois surge mencionado "um panno de bocca com a imagem de Santo António" no inventário realizado nesse ano pela Irmandade de Santo António dos Frades.

Obra de parcos recursos plásticos, de autor desconhecido, é intrigante a sua semelhança, em termos de organização e de distribuição das figuras, com a tela existente na igreja bem próxima de Santo António da Torre Velha, na outra margem do rio Lima, ainda que esta última seja marcada por um tratamento mais cuidado da fisionomia do Santo, do Menino e dos anjos localizados na parte inferior da tela. Tal facto parece sugerir uma autoria comum de ambas as obras, saídas de uma oficina regional, ou, pelo menos, a modelação de uma a partir da outra.

A tela apresenta Santo António com o Menino ao colo, assente no seu braço esquerdo. Santo António, tonsurado, enverga o hábito franciscano cingido pelo cordão de três nós. Aponta com a mão direita para o Menino e encosta a sua cabeça na do outro, dirigindo o olhar para Ele. O Menino enverga um cendal claro e segura uma cruz na mão esquerda. Santo António, de sandália no pé direito, o único visível, está sobre uma nuvem da qual saem anjos, por sua vez apoiada numa peanha semelhante ao sotobanco de um retábulo. Um anjo à sua direita segura o ramo de lírios, enquanto que, à sua esquerda, outro anjo sustenta com ambas as mãos uma filactera verde contendo uma inscrição. Por cima do santo, a pomba do Espírito Santo irradia uma luz sobrenatural, desenhando o vértice superior de um triângulo composto, em cada uma das bases, por três cabeças aladas. A inscrição da filactera é o início de uma oração em latim, da autoria do franciscano São Boaventura: "O Lingua benedicta, quae Dominum semper benedixisti et alios benedicere docuisti: nunc perspicue cernitur quanti meriti fueris apud Deum." ("Oh língua bendita, que sempre louvaste o Senhor e ensinaste os outros a louvar: agora claramente se vê quanto merecimento tiveste junto de Deus.")