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museus de Ponte de Lima

MUTE_2Museu dos Terceiros_Miguel Costa

Museu dos Terceiros_Miguel Costa

Santíssima Trindade

Pintura a óleo sobre tela do Século XIX

  • Dimensões: 288 x 180 cm
  • N.º Inventário: 0394

A ilustrar um texto assinado por Carlos de Passos sobre a Igreja Matriz de Ponte de Lima, publicado na revista Diónysos, em maio de 1927, surgem várias fotografias da autoria de Aarão de Lacerda, o diretor da publicação, entre as quais uma que documenta o portal renascentista da capela do Santíssimo Sacramento, atualmente capela Beato Francisco Pacheco, em homenagem ao mártir Jesuíta natural desta localidade. É possível observar com nitidez, ao fundo da capela, integrada num retábulo de feição neoclássica, a tela representando a Santíssima Trindade. Fruto das obras levadas a cabo posteriormente no interior do templo, que incluíram a desmontagem do retábulo da mencionada capela, entre outros, a tela foi descontextualizada, tendo entrado depois no Museu dos Terceiros, passando a figurar no convento de Santo António dos Capuchos, mais concretamente na capela da Senhora do Rosário.

Esta tela exibe uma faceta dupla. Por um lado, trata-se evidentemente de uma variação das habituais representações da Trindade Vertical, género de representação trinitária que evoluiu a partir dos séculos XI-XII. Deus Pai, em posição sentada, apresenta, como símbolo da Graça redentora, o corpo do Filho, enquanto a pomba do Espírito Santo plana sobre a cabeça de ambos. Por outro lado, e talvez mais importante, o que aqui observamos é uma figuração da Trindade como "Compassio Patris", onde está bem patente a dupla natureza de Cristo, o ser divino e o homem que sofreu. Mais do que afirmar um complexo e sofisticado mistério teológico, o propósito da cena é inspirar compaixão perante a imagem sofredora de Cristo. A compaixão do Pai deve ser imitada pelos observadores, que devem ter sempre presente no espírito que a dor da cruz foi necessária para a redenção. Esta espécie de lamentação de Cristo transportada para o domínio celeste pesa na atmosfera da obra, bem longe do ambiente etéreo e glorioso que é traço característico de muitas representações da Trindade.

Deus Pai surge imponente, como uma figura venerável de longos cabelos e barba branca, fisionomia que remonta ao Ancião dos Dias da visão do profeta Daniel. Envolvido num grande manto castanho, ampara no seu colo o Filho morto. São visíveis os estigmas em ambos os pés nus, que pousam em nuvens. Sobre a cabeça de Deus Pai, ligeiramente inclinada à esquerda do observador, aparece o Espírito Santo sob a figura de uma pomba, ladeada por cabeças de anjos, rematando a composição. Três anjos de corpo inteiro assumem uma atitude de dor e ostentam alguns dos instrumentos da Paixão de Cristo. Num nível inferior, um anjo ajoelhado chora sobre a mão esquerda de Jesus, enquanto que, mais acima, um outro segura os três cravos da crucificação e outro ainda sustenta a coroa de espinhos, a lança e o flagelo.