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museus de Ponte de Lima

MUTE_2Museu dos Terceiros_Miguel Costa

Museu dos Terceiros_Miguel Costa

Senhora do Rosário

Escultura de vulto em madeira dourada e policromada do Século XVII

  • Dimensões: 110 x 38 x 34 cm
  • N.º Inventário: 0054

A devoção ao rosário de Nossa Senhora remonta, de certo modo, a princípios do século XII, época que assiste ao prelúdio da difusão da oração "Ave Maria". Segundo a tradição, que hoje se reconhece lendária e forjada posteriormente pelo dominicano Alain de la Roche (Alanus de Rupe), a Virgem apareceu, acompanhada de três anjos, a São Domingos e entregou-lhe o rosário, também conhecido como o saltério de Jesus e Maria, por conter o mesmo número de saudações angélicas que os 150 salmos do rei David. Já no século XIV, um monge cartuxo alemão divide o saltério em quinze dezenas, intercalando o "Pai Nosso" em cada dez "Ave Maria". Somente entre finais de Quatrocentos e inícios de Quinhentos é que a contemplação dos mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos passou a integrar o rosário, cuja forma específica, substancialmente idêntica à de hoje, foi consagrada em 1569 por Pio V.

É a partir deste período que a arte passa a retratar com mais insistência a Virgem do Rosário, atingindo o período áureo nas duas centúrias seguintes, sobretudo no domínio da escultura, facto a que não foi alheio a proliferação das confrarias da Senhora do Rosário.

Esta Virgem do Rosário é a titular da capela com a mesma invocação no convento de Santo António, espaço reformado por D. Francisco de Lima por volta de 1670: "A imagem de N. Senhora do Rosário, que esta collocada no meio do retabolo, he de escultura em madeira de sinco para seis palmos de altura, e tem a seu amado Filho no braço esquerdo, cuja formosura, e belleza de ambos, Mãi e Filho, enchem de alegria, e consolação aos que devotamente alli entrão. Aos lados da Senhora ficão duas devotas Imagens de nossos Santíssimos Patriarcas S. Domingos, e São Francisco também de escultura em madeira, e da mesma estatura, e nos persuadimos forão alli collocadas por ordem do mesmo D. Francisco de Lima."

O programa iconográfico do retábulo mencionado pelo cronista do convento, que hoje se mantém, traduz a disputa que sempre se verificou, relativamente à primazia em torno do culto do rosário de Nossa Senhora, entre a Ordem dos Frades Menores e a Ordem dos Pregadores e que, neste caso, os franciscanos também pretendiam reclamar para si.

Exemplar que ilustra a fase de transição entre o maneirismo e o barroco, apresenta a Virgem de pé, em posição frontal, com a cabeça levemente inclinada à esquerda, de face anatomicamente cuidada, cabelo escuro, sustendo com ambas as mãos o gracioso Menino, que surge na oblíqua, completamente desnudo, cabelo louro ondulado, ensaiando com a mão direita um gesto de ternura na face da mãe. O manto azul, de forro branco, projeta-se já em movimentações barrocas, marcado por orla de faixa dourada. A túnica rosada, roçagante, cai de forma dinâmica. A Virgem assenta numa nuvem azul em ondulações douradas, com três querubins relevados, de cabeças robustas e bochechas salientes, surgindo o da esquerda quase de perfil.