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museus de Ponte de Lima

MUTE_2Museu dos Terceiros_Miguel Costa

Museu dos Terceiros_Miguel Costa

Armário de Sacristia

Pau-santo do Século XVIII

  • Dimensões: 200 x 120 x 44 cm
  • N.º Inventário: 0480

Armário embutido, em pau-santo, disposto no sentido vertical, formando três corpos distintos. O registo inferior apresenta duas portas volantes almofadadas, com losangos inscritos em retângulos. O registo intermédio é composto por um batente almofadado, que, quando aberto, serve como superfície horizontal de apoio à escrita, funcionando como escrivaninha. O nível superior é constituído por uma secção de vinte e quatro gavetas, numeradas, dispostas em seis colunas, sobrepujadas por outras três gavetas, não numeradas, de maior dimensão. As gavetas incorporam puxadores em marfim e em madeira com forma de maçanetas.

Na menção da Crónica conventual às obras da sacristia, ocorridas entre 1743-1744, o armário embutido é passado em silêncio. Tal não significa que a peça não tivesse incorporado o património do cenóbio franciscano nesse período. Era habitual naquele tempo encomendar a execução dos contadores dos amitos juntamente com os arcazes, prática que pode ter sucedido no convento de Santo António, sem que exista, todavia, qualquer documento que suporte esta ideia.

Os contadores de amitos ou amituários têm origem nas pequenas caixas providas de um número variável de gavetinhas destinadas à guarda de documentos ou pequenos objetos de valor, como joias, que muitas vezes eram usadas em viagens. A partir daqui foi o corpo adquirindo maior volume, aumentando igualmente o número de gavetas sobrepostas e justapostas. Com a introdução de uma estrutura inferior de armação apoiada em quatro pés, ligados quase sempre por travessas, chegamos ao que hoje é usual chamar-se contador. Em Portugal foi muito divulgado a partir do século XVII, mas já antes se expandira um pouco por toda a Europa.

O tipo de móvel que aqui apresentamos é já uma derivação do contador, um objeto de uma funcionalidade mais polivalente, motivo pelo qual entendemos designá-lo de armário de sacristia, e não contador de amitos ou amituário, de uso mais restritivo, não coadunável com a utilização mais abrangente desta peça.

Na realidade, contratos da época revelam o uso a dar aos armários de sacristia que apresentam esta organização. No contrato para o guarda roupa destinado ao mosteiro cisterciense de Santa Maria do Bouro, cujo teor foi publicado por Robert Smith, vem expressamente indicado que a parte inferior serviria como reserva para os castiçais, a secção intermédia funcionaria para recolher os cálices e os missais, e somente a parte superior, com gavetas, teria serventia para os amitos.

Bem próximo do convento de Santo António, na sacristia do antigo mosteiro de Santa Maria de Refóios do Lima, dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, mora um excelente exemplar com a mesma tipologia, que nada fica a dever ao da casa da Ordem de Cister.